Caminham lado a lado o crescimento da demanda por energia, para que o mundo funcione cada vez melhor e mais rápido, e a urgência de conter os prejuízos ao meio ambiente, estes causados não só pelo setor de óleo de gás, mas por todas as atividades produtivas.
A meta de líderes mundiais é ambiciosa: neutralizar as emissões de gases de efeito estufa até 2050. E uma das formas para chegar a esse patamar é transformar a matriz energética para fontes renováveis. Nesse sentido, o Brasil, que há um tempo ocupa posição de destaque no mercado mundial de energias renováveis, já desponta com a produção de biocombustíveis e a criação de estrutura para produção do hidrogênio verde.
Fato inegável, no entanto, é que o CO2 vai continuar existindo. Então, a resposta à pergunta colocada no começo precisa ser pensada a partir de uma visão clara do que fazer com o que inevitavelmente se emite.
A captura e o armazenamento do carbono emitido pode ser a saída não só em questão de sustentabilidade como também em questão de competitividade no mercado. Esta é uma prática que ainda precisa ganhar seu espaço, e vai. Empresas estão dando os primeiros passos em projetos de captura de carbono.
Um dos exemplos mais recentes, e importantes, é a Petrobras. A estatal anunciou novo projeto de captura e armazenamento de carbono (CCS, na sigla em inglês) no terminal de Cabiúnas, no Rio de Janeiro. O trabalho tem capacidade de capturar ao menos 100 mil toneladas de CO2 por ano.
Embora os primeiros passos já tenham sido dados, essa caminhada pode acelerar ainda mais. E os governos, especialmente do Brasil, podem ajudar esse mercado a ganhar corpo. Está em discussão há um tempo um projeto de lei para propor um marco regulatório para a prática de CCS.
O PL 1.225/2022 visa estabelecer regras para captura e armazenamento de carbono, mas também abre um espaço favorável para a criação de políticas públicas que tragam segurança e impulsionem a atividade. A participação do setor público é importante porque a captura de carbono não é um processo barato. Logo, enquanto for mais barato emitir CO2 do que capturá-lo, será muito difícil estimular a indústria brasileira.
Descarbonização em ação
A ABB e a PACECCS colocaram em ação um plano para desenvolver e oferecer uma solução capaz de reduzir o custo de integração da captura e armazenamento de carbono (CCS) em operações industriais novas e existentes. A proposta em linhas gerais é trabalhar o sequestro e armazenamento de carbono por meio de gêmeos digitais, tecnologia que fornece uma réplica virtual de um processo ou instalação física real.
A ideia é bastante inovadora para este setor e esta simulação possibilita testar diferentes aspectos, fragilidades e forças antes de investir dinheiro na execução do projeto - saiba mais sobre os benefícios dessa parceria para o segmento de óleo e gás no Brasil aqui [link].
Carbono capturado: oportunidade de mercado
Injetar CO2 em camadas subterrâneas tem também o seu ganho comercial. Isso porque cresce no mundo o mercado de crédito de carbono, onde é legítima a negociação de créditos entre empresas que estão cumprindo metas ambientais e outras que estão precisando compensar.
O mecanismo é de compra desses créditos de carbono de parte de empresas que estão mais avançadas em redução de emissões por outras empresas que não atingiram a meta mas têm condições de adquirir créditos e aquecer esse mercado. O princípio da demanda e oferta segue neste caso também: quem não cumpriu compra de quem cumpriu com folga.
Essa atividade econômica ganha novo impulso com a aprovação pelo Senado do projeto de lei que regula o mercado de crédito de carbono. Criado a partir do projeto de lei, o Sistema Brasileiro de Comércio de Emissões será responsável por controlar empresas emissoras a partir de 10 mil toneladas de CO2, com grau de rigidez maior para as indústrias que emitem acima de 25 mil toneladas. O agro fica fora do mercado regulado e enquadra no mercado voluntário de carbono.
A multa para quem não cumprir as metas estabelecidas pelo sistema pode ser de até 5% do faturamento bruto da empresa. Agora, uma cifra bem mais interessante são os US$ 120 bilhões que podem ser atraídos por causa do mercado de carbono regulado, segundo estimativas da Câmara do Comércio Internacional (CCI) baseadas em estudo da WayCarbon.
É fato incontestável que possibilitar a sustentabilidade em operações de óleo e gás no Brasil também traz resultados financeiros para as empresas. Agora, para o bem não só do meio ambiente como também para a saúde das empresas, novos mercados começam a se estabelecer e apresentar novas possibilidades de ser sustentável e competitivo, e vice-versa.
Antonio Carvalho, Digital Lead no segmento de Energy Industries na ABB Automação