- Uma caminhada até à máxima exploração dos ativos
- A escolha estratégica para a manutenção do ativos
A estratégia e gestão de ativos são determinantes para impulsionar um negócio. Em função das decisões tomadas um de dois resultados: um avanço sustentado e alinhado com as tendências, ou a permanência num modelo em franca mudança tecnológica e incapaz de cumprir diretrizes associadas à sustentabilidade e metas da descarbonização.
Da perspetiva normativa e legislativa, registam-se algumas normas01 NP e sobretudo EN, que, ao cumprirem formalidades institucionais para as atualizações têm alguma dificuldade a acompanhar a dinâmica da evolução normativa, consequência da legislação nacional estar muito dependente de Decretos de Lei.
Neste artigo (1|3), queremos falar para: o gestor de manutenção, de operações e serviços, e os demais profissionais que vivem o tema “manutenção”, desde o consultor, passando pelo facility manager até ao topo da hierarquia de uma organização, queremos ajudar a desmistificar o digital assumindo a sua inevitabilidade enquanto ferramenta de gestão de ativos. Onde o foco na manutenção preditiva02 permitirá aumentar a eficácia geral dos ativos com redução de custos, beneficiando das oportunidades financeiras comunitárias de investimento geridas nacionalmente03.
Uma caminhada até à máxima exploração dos ativos
Independentemente do foco ou atividade do seu negócio, ou dos seus clientes, a gestão de ativos é parte da equação. Sem maquinaria física, equipamentos, unidades funcionais e sistemas elétricos, negócios intensivos em ativos como fabricantes, serviços públicos, refinarias papeleiras, cimenteiras, food & beverage, exploração mineira, transportes, e muitos outros, simplesmente não funcionariam. Toda uma arquitetura viva sustentada na eletromecânica, automação e conectividade, e que torna a gestão de ativos uma das funções estratégicas mais críticas de toda uma organização.
O mundo da gestão de ativos tem evoluído rapidamente, fruto dos avanços tecnológicos numa economia de escala e impulsionada, também, pelas limitações físicas do contexto pandémico que vivemos, com o surgimento da Internet das coisas na indústria (IoT) a implulsionar a digitalização da infraestrutura física. O recurso a sensores inteligentes instalado em ativos, numa arquitetura de instalação mais ou menos complexa, fornece quantidades de dados interpretáveis que podem ser usados para o ajuste fino do desempenho, medição, monitorização dos indicadores-chave de performance (KPI)04, determinar o retorno sobre o investimento e no suporte do planeamento das ações de manutenção. Medir para poder decidir.
Os dados do parque instalado surgem num momento de oportunidade temporal e de mudança de paradigma, especialmente quando se trata dos ativos de eletrificação. Com a força de trabalho nas áreas da engenharia de base, gestores de ativos e manutenção, técnicos e quadros operacionais, a chegar rápida e inevitavelmente ao fim da sua carreira profissional, muito do seu conhecimento técnico e institucional sairá com eles sem planos de sucessão estruturados, tornando-se difícil a recuperação desse conhecimento junto dos seus pares disponíveis.
Segundo Pedro Rompante, Coordenador Técnico da Especialização em Manutenção Industrial do CENERTEC10: muitos destes profissionais serão substituídos por outro tipo de profissional, cujas perspetivas de carreira são muito diferentes dos seus antecessores. Não terão décadas de experiência, mas trazem uma visão diferente do mundo do trabalho. Uma forma de motivar e reter estes profissionais é garantindo formação. A rápida evolução tecnológica em direção à digitalização obriga a um reforço das hard skills, torna-se essencial saber dialogar com profissionais especialistas das novas áreas de conhecimento11 que obrigam os gestores a conhecerem a linguagem e os termos técnicos. As soft skills não podem ser esquecidas, na medida em que o trabalho atual evolui para parcerias e esforços colaborativos, onde se torna essencial compreender as dinâmicas das equipas. É certo que esta é uma preocupação antiga das organizações, mas agora muda de foco: antes, pensava-se na dinâmica chefe-subordinado; agora os profissionais são confrontados, cada vez mais, com equipas onde não há líderes nomeados, tornando as competências de liderança e inteligência emocional essenciais.
Mas a formação não deve apenas focar-se nas novas tecnologias. Importa reforçar o conhecimento científico e organizacional de base, sem os quais o acelerado esforço de digitalização e manutenção preditiva não são possíveis. Continua a ser pertinente conhecer e saber aplicar os princípios da Engenharia, as normas e boas práticas reconhecidas internacionalmente, assim como a legislação vigente. A formação deve ser intensiva, objetiva e dada por especialistas em cada área. Deve ser intensiva, porque o trabalhador de hoje tem o seu tempo cada vez mais preenchido; objetiva porque deve dirigir-se para resolver problemas específicos, sem ambiguidades e dada por especialistas de cada área, para que o formando esteja em contacto com a realidade do mercado.
Importa realçar que a formação é essencial para todos os quadros ligados à Manutenção, desde o gestor de topo até ao técnico polivalente. Mesmo para os que possuem formação universitária, a aprendizagem ao longo da vida profissional é essencial para lidar com novos projetos, novos desafios, novas responsabilidades ou apenas para conhecer novas facetas de um tema já familiar.
Um mercado competitivo de recursos humanos de evidenciados talentos e de reforçadas competências pode significar contar com menos pessoas para se executar mais trabalho. A perda de recursos humanos e também uma infraestrutura herdada potencialmente envelhecida pode significar um gasto de tempo e dinheiro no cumprimento de um plano de manutenção preventiva02 de base, potencialmente dispendioso e eventualmente desnecessário face à verdadeira condição de operação e histórico de exploração do equipamento ou sistema.
Porque muitos desses sistemas são isolados e requerem monitorização manual e operação, o tempo limitado das equipas operacionais é gasto a recolher e analisar dados.
Embora a manutenção preventiva02 desnecessária seja dispendiosa, o custo do tempo de inatividade não planeada pode ser ainda mais. De acordo com a International Society of Automation a produção anual com perda de tempo de inatividade não prevista pode ter um impacto financeiro numa organização entre 5% a 20% da sua capacidade de produção anual, segundo estudos da mesma fonte, resultando em milhões de perdas de receita. O tempo de inatividade não planeado não é apenas inconveniente é perigoso. Uma falha no momento errado pode levar a lesões ou fatalidades no local de trabalho para os operadores, prestadores de serviços, ou outros que indiretamente se vejam envolvidos. Cabe a todos, cada um na sua atividade, a responsabilidade e o dever moral e legal de cumprir os procedimentos de segurança em conformidade, com impacto na segurança para o próprio e os demais envolvidos. O impacto económico dos acidentes de trabalho é significativo, os custos globais por danos físicos, emocionais, psicológicos e morte, representam perto de US $ 3 trilhões07 por ano. Na Europa, segundo a EU-OSHA, registaram-se em 2017 476 mil milhões de euros, o correspondente nos países da UE a cerca de 3,3% do PIB. A nível mundial, as perdas são de 3,9 % do PIB e correspondem a um custo anual de cerca de 2 680 mil milhões de euros.
A ABB assume a sua responsabilidade junto dos seus colaboradores e clientes, promovendo ativamente módulos de formação sobre o tema “segurança”, e outros, através da ABB MyLearning05.
A estratégia de gestão de ativos determina se esses potenciam ou comprometem os resultados de uma atividade ou negócio. Ao colocar os dados recolhidos na base de uma estratégia, poderemos melhorar a maneira como se aborda a manutenção para aumentar a sua eficácia e eficiência e, ao mesmo tempo, reduzir custos. Avaliando com base em dados concretos a verdadeira realidade de uma instalação, operação e organização, é mais fácil tomar decisões financeiras.
Face ao exposto, podemos concluir que os custos diretos e indiretos de uma falha são algo que uma empresa definitivamente não quererá pagar. Há que estabelecer-se o eventual equilíbrio ou opção estratégica dos formatos financeiros para contratar e adquirir produtos e serviços (OpEx e CapEX)08.
A escolha estratégica para a manutenção dos ativos
O equilíbrio da manutenção é este: Ao avançar com a manutenção muito antecipadamente poderemos estar a despender dinheiro e tempo em intervenções ou reparações em algo que na realidade não necessita ainda de uma ação concreta, contudo se esperamos até que seja tarde demais, a falha poderá ter impacto noutros ativos de um sistema abrangente com consequências técnicas maiores, somando-se à perda de faturação com a inatividade não planeada. O objetivo é a melhoria contínua no equilíbrio, qual guião de um protocolo de qualidade, tendo como meta obter a melhor eficácia e eficiência de toda uma máquina produtiva.
Ao longo dos anos, várias estratégias foram desenvolvidas para determinar o momento ótimo para conduzir a manutenção de forma a garantir a maior disponibilidade geral dos ativos num sistema, com respeito pela segurança e vida útil definida pelas marcas ou fabricantes de conjunto (OEM08, quadristas09, integradores de sistemas, etc…), a longo prazo pelo menor custo.
Existem duas abordagens principais para manutenção: corretiva e preventiva02. O conceito corretivo na manutenção é simples: explorar o ativo até que atinja o seu fim de vida, não conforme ou se danifique por completo. Agindo por consequência na reparação, recorrendo a spares parts ou retrofits, ou recurso à substituição do ativo ou sistema.
Embora esta abordagem tenha a vantagem de economizar dinheiro em manutenção desnecessária, a manutenção corretiva é mais imprevisível no que diz respeito ao risco do tempo de inatividade, danos nos equipamentos e segurança das pessoas. Exceto os ativos menos impactantes financeiramente ou importantes, num todo, no sistema ou em redundância, numa lógica de back-up funcional, por exemplo, um grupo gerador de apoio ao principal ou um PLC em redundância (warm-standby ou hot-standby), que poderão protelar a manutenção do ativo danificado.
Para vários ativos, a abordagem mais lógica para a manutenção é a preventiva02. Agindo antes que um ativo falhe, potenciar a vida útil do ativo pode reduzir o custo total de propriedade e evitar interrupções catastróficas não previstas. Mas o desafio, senão a arte, da gestão de ativos é determinar o momento exato para conduzir a manutenção preventiva02.
Existem várias abordagens preventivas:
• Manutenção baseada no tempo: esta abordagem envolve a realização de manutenção com base num cronograma padrão definido pelos fabricantes do ativo ou sistema concreto, por exemplo cada 12 semanas ou por tempo de funcionamento ou execução, por cada 10.000 horas. Conseguimos desta forma uma ajuda na garantia que os ativos são inspecionados regularmente, todavia podemos acabar por perder tempo ao colocar um ativo em perfeito funcionamento fora de serviço, sem mencionar o custo de substituição de peças que podem ter ainda vida útil disponível e em conformidade.
• Manutenção baseada na condição: a abordagem mais sofisticada, recorre a equipamentos de monitorização baseando-se nas condições observadas e analisadas, por interpretação dos dados e/ou recurso a algoritmos em softwares de análise (por exemplo, ABB MySiteCondition), chegamos à condição real do ativo. Esta abordagem, ou recurso, permite-nos realizar uma manutenção preventiva02 quando uma condição anormal é detetada, ajudando a garantir que tiramos o máximo partido de cada unidade funcional, equipamento ou componente. Devemos, contudo, reconhecer a desvantagem da manutenção baseada na condição é que ações de manutenção mais reactivas, consequência de análises concretas, tornam-se mais difíceis de prever.
• Manutenção preditiva02: com esta abordagem, podemos usar os dados recolhidos no campo, através dos vários sensores e equipamentos de monitorização (encontrando resposta na ABB AbilityTM), permitindo-nos não só avaliar a condição dos ativos isoladamente, mas enquanto parte integrante de um sistema, dando-nos assim uma visão global de um processo ou exploração. Com esta abordagem, poderemos antecipar o desempenho futuro de cada ativo. Esta sofisticada análise permitir-nos-á ser capazes de otimizar a programação das manutenções, minimizar o tempo gasto e beneficiar de consequência positivas com a potencial redução de custos.
Bibliografia e Webgrafia
01 Entre outras: NP 4483:2009 - Guia para a implementação de sistemas de gestão da manutenção; NP EN 13460:2009 – Documentação para a Manutenção; NP EN 13269:2016 - Instruções para a Preparação de Contratos de Manutenção. NP 61439 ajuda-nos também no tema – Manutenção, promovendo igualmente a importância do perfil Fabricante do Conjunto (quadrista) para a continuidade e vida útil do Conjunto Cablado
02 NP 13306:2016 (EN 13306:2017)Maintenance. Maintenance terminology
03 Plano de Recuperação e Resiliência português: C16 Empresa 4.0
04 EN15341:2019 Maintenance: Maintenance Key Performance Indicators
05 Plataforma de conhecimento também disponível para clientes. Em MyLearning clique em Sign In. Será posteriormente redirecionado para o Login do MyABB, onde poderá criar a sua conta de acesso aos conteúdos disponíveis na plataforma. How to create your MyABB account? How to access MyLearning from your computer? How to access MyLearning from your Android mobile device? How to access MyLearning from your iOS mobile device?
06 segundo um estudo da reconhecida Safety+Heath magazine, publicada pelo National Safety Council, do Estados Unidos. Assumindo-se como o é o principal defensor da segurança sem fins lucrativos da América. O seu foco é eliminar as principais causas de lesões e mortes evitáveis. Numa perspetiva mais europeia, a European Agency for Safety and Health at Work (EU-OSHA)
07 Designam as duas categorias de despesas empresariais relativas à forma de contratar e adquirir produtos e serviços. Fundamentais para o controlo e gestão dos gastos duma organização.
CapEX - O capital expenditure, ou despesas de capital, representa investimentos ou desembolsos em bens de capital, que são aqueles utilizados na produção de outros itens, como equipamentos, materiais de construção, entre outros.
OpEX - O operational expenditure refere-se às despesas operacionais, que são pagamentos relativos à atividade de gestão empresariais, operação de ativos e venda de produtos e serviços.
08 OEM - Original Equipment Manufacturer [Fabricantes de máquinas]
09 NP 61439:2014, 3.10.2 Fabricante do Conjunto (quadrista)
10 Cenertec – Centro de Energia e Tecnologia | Formação Avançada, Empresa que, se tem dedicado à Formação Avançada desde 1981, nomeadamente à organização de Cursos Intensivos, Especializações, Seminários, Cursos à Medida e Congressos Europeus, em domínios da Engenharia Industrial, Energia, Ambiente e Gestão. Disponibilizando, no seu amplo portfolio, soluções de formação intensiva, dadas por especialistas que praticam o que ensinam e ensinam o que praticam.
11 A Digitalização está a introduzir uma panóplia novos perfis profissionais como analistas de dados, programadores de algoritmos, gestores de bases de dados, cientistas de dados ou engenheiros de fiabilidade. Ao mesmo tempo, áreas tradicionais da Manutenção são reforçadas, como os sensores, recolha de dados, Metrologia, equipamentos de teste e diagnóstico. A todas estas dimensões, surgem alterações na forma da disponibilização de equipamentos. A emergência da Economia Circular vai levar cada vez mais à venda do produto/serviço realizado, em detrimento da venda do próprio equipamento, conhecido como pay-per-use. Este modelo de negócio trará novos desafios na Gestão da Manutenção e no relacionamento com os fabricantes de equipamento.
Outros ABB Ability Give your buildings a new dimension; Give Your Buildings a New Dimension - Industrial site (abb.com); Maintain efficiency, availability and safety with the right maintenance program; ABB 4 types of maintenance strategy, which one to choose?; Six steps to predictive maintenance Take your operation to the next level; Predictive Maintenance Goes Mainstream (abb.com)